quinta-feira, 2 de outubro de 2014

15/06/2013 - 10 dia - Santa Catalina a Villa Franca del Bierzo

Mapa de Altimetria:





Locais visitados:

529 km - El Ganso - Povoado que mais parece estar abandonado com suas casas e telhado de palha

536 km - Rabanal del CaminoIgreja octogonal de Santa Maria


542 km - Foncebadón


543 km - Cruz de ferro - monumento localizado entre as vilas de Foncebadón e Manjarin, pegar uma pedra no inicio de sua caminhada e acrescentarem ao grande monte, marcando sua passagem. 

546 km - Manjarin - uma cidade medieval abandonada no alto da montanha...

553 km - El Acebo - Depois de atingir a parte mais alta do caminho, terá uns 400 metros de descida bem íngreme rumo ao povoado. 

556 km - Riego de Ambrós 

561 km - Molinaseca - (rio represado) do povoado. Passear pelos inúmeros bares e restaurantes da vila é obrigatório. 

568 km - Ponferrada - 
  • Fortaleza - construída pelos cavaleiros templários. É um monumento impressionante e permanece inalterado até hoje. 
  • Basílica de N. Senhora de La Encina, 
  • Convento dos Concepcionistas, 
  • Prédio do Ayuntamento - ao qual se chega no arco do Relógio e a Igreja Mozárabe de Santiago de Peñalba.
578 km - Camponayara - A igreja moderna demais para os padrões do caminho está dedicada a San Ildesonso.

584 km - Cacabelos  - Povoado reconstruído as margens do rio Cúa.

594 km - Villa Franca del Bierzo - portal do perdão, praça mayor, Ayuntamento, Calle del Água, Convento Augustina, Igreja de Santiago (Séc. XII, colegiata de Santa Maria, Igreja de San Francisco, convento de La Anunciata, palácio dos marqueses, museu de ciências naturais e a Igreja de  Santiago.

Diário de Bike:

É muito bom acordar ao lado de meu amor e começar o dia de pedal com ele! Acordamos sem despertador, a hora em que o corpo pediu, e tomamos um café no albergue. Depois, demos adeus a Santa Catalina e partimos. Hoje pretendemos seguir até Cacabelos.









Imediatamente, ao sair de Santa Catalina, temos uma visão incrível! Ao fundo é possível ver a cadeia de montanhas que subiremos, para a Cruz de Ferro. 


Há também, uns muros de pedras que infelizmente não descobri a razão de estarem ali... mas acho bonito.





Na sequência, passam por nós uns ciclistas e, para nossa surpresa, são brasileiros. Conversamos um pouco com um deles e descobrimos que vieram com o Alemão, um guia de viagens (de bike), de SP. Eles tem uma grande estrutura, contando com reservas, nos próximos albergues, e carro de apoio. Daqui para frente, vamos encontrá-los várias vezes pelo percurso.




Chegamos em El Ganso. Havia lido em um site sobre o Bar Cowboy, uma 'verdadeira miniatura de mercado persa, com uma culinária sortida de boas empanadas e tortilhas'. Passamos por ali, para carimbarmos nossas credenciais. Encontramos uma bandeira do Brasil e conversamos um pouco com o dono, que foi muito pouco receptivo.  








Depois disso, seguimos apreciando as belas paisagens em direção as montanhas.





Em Rabanal del Camino, encontramos novamente o grupo de bicigrinos do Brasil e muitos peregrinos descansado.




A vila possui muitos atrativos por seu histórico de assentamento templário, na época medieval. 






Começamos a subir pelo Monte Irago. A partir daqui, decidimos não subir pela trilha e seguir pela estrada de asfalto, devido a dificuldade de inclinação aliado às pedras soltas do caminho de terra. 


Logo no início da subida, é possível se reabastecer de água, em uma fonte. É impressionante como a água é gelada! Encontramos ali, mais um ciclista e aproveito para fazer uma foto da bike dele, com uma bela paisagem de fundo. 




Chegamos a Foncebadon. Esta vila, abandonada no passado, recentemente ressurgiu das cinzas através da abertura de um restaurante que oferece pratos medievais e, hoje, é muito procurado por turistas do mundo todo. Infelizmente, o tal restaurante, ainda não estava aberto quando passamos por lá... 





A dificuldade só vai aumentando... muito mais subidas, em compensação, muito mais paisagens de tirar o fôlego! Embora o sol esteja muito forte, sentimos também um ar bem gelado das montanhas e logo começamos a ver neve nos picos das mais distantes...











Após uns 2 km  de Foncebadon, chegamos a tão famosa 'Cruz de Ferro', um dos pontos culminantes do camiño! Estamos a 1.439m de altitude. Aqui, os peregrinos, via de regra, cumprem um ritual depositando uma pedra na base da cruz, para invocar proteção a sua peregrinação, efetuar pedidos ou deixar seus pecados. Algo controverso, mas o que tenho a dizer é que aqui, há um silêncio que chega a ser ensurdecedor... o único barulho que podemos ouvir, é do vento e provavelmente de nossos inquietos pensamentos. 


Fico um tempo observando os peregrinos, enquanto chegam, colocam sua pedra, ajoelham-se e começam a rezar... 



Penso em tudo o que vivi até aqui e todos os reveses que atropelaram minha viagem... em tudo o que deu 'errado', mas que, no final, foi para 'dar certo'!  Penso em todas as pessoas que conheci e em como me sinto no momento... tudo é tão intenso que me dá vontade de chorar. Lembro-me que, no livro que li, o rapaz que fez o camiño citou que tudo girava em torno da gratidão... caso ele terminasse um dia sem perceber uma razão para isso, era por que algo havia passado, sem ele se aperceber... Dizer que sou grata a tudo, seria óbvio demais... Na verdade, as coisas por aqui, me tocaram muito além. Foi um divisor de águas. Sou outra pessoa, alguém melhor, que observa as pessoas e o sofrimento delas, mesmo quando elas permanecem em silêncio. Quero compartilhar as alegrias, mas não só isso... as tristezas também e pode ser de uma pessoa que conheço a vida toda ou de alguém que acabo de conhecer.... Faço meu agradecimento, do fundo de meu coração, e agora sei que estou pronta para partir...

Não permanecemos muito tempo por aqui... já sabem como reajo em relação ao frio... e, por isso, não podemos deixar 'arrefecer' (esfriar o corpo), como diz meu noivo. Seguimos pelo asfalto que agora está paralelo ao camiño. 





Assim que chegamos na estação militar, a 1.520m de altitude (ponto mais alto de hoje), começa a descida. Temos quase 14 km de descidas, com quase 1.000m de declive. Eu morro de medo de altura e há umas curvas bem fechadas. Fico muito tensa... mas tento aproveitar ao máximo as paisagem daqui, que são indescritivelmente magníficas... Amo as cores da natureza, aqui de cima!



Infelizmente, fui surpreendida por algum tipo de inseto, que 'pica' meu pescoço. No susto, freio rapidamente e quase caio quando vou parar. Meu noivo até consegue tirar o ferrão, mas continuo sentindo o local ardendo e pulsando... 

Estamos próximos ao bar do Tomás, que fica em um povoado abandonado, de Manjarín. Li que, 'apesar da precariedade do local, aqui, o peregrino terá a chance de experimentar a verdadeira hospitalidade do caminho, uma vez que Tomás, sempre estará pronto a prestar apoio aos peregrinos, em qualquer época do ano, com um café, chá quentinho ou chocolate quente'. Ao chegarmos ali, não precisava de nada disso, mas comento com ele que um inseto acabara de me ferir.  Imediatamente ele correu para dentro e voltou com um frasco de remédio natural (tipo 'garrafada'). Concordo com o que li,  em gênero, número e grau! A hospitalidade de Tomás é mesmo algo marcante... obrigada meu amigo!




Olha o Caminho do Sol - Brazil e o Caminho dos Anjos em evidência, por aqui!






Descobri que o povoado de El Acebo, próxima vila, são os responsáveis por manter as estacas no caminho, a fim de não 'perder' a orientação da estrada, durante o período de neve. Percebi que haviam várias pelos caminho. 


A vila de El Acebo fica no meio de uma descida acentuada. Aqui tem vários restaurantes e albergues. Há também, uma bicicleta que homenageia um alemão que morreu em um acidente por aqui... acidente?!? Eu já estava morrendo de medo da descida, quando descubro isso, não 'largo' mais os freios... desço praticamente 'parando' a bike, tanto, que meu noivo começa a ficar impaciente. 








A descida termina praticamente em Molinaseca. Não sei se estou mais feliz por terminar a descida ou se fico encantada com a beleza da cidade! Há uma ponte românica , enorme, logo na entrada, com um lindo riacho cristalino. 


 










Já eram mais ou menos 12h. Por isso, decidimos parar por aqui, para fazer nosso tradicional almoço bicigrino: Pão, atum enlatado, cerveja para o Filipe e um chocolate quente para mim.





Após, seguimos em direção a Ponferrada, uma cidade maior (com 70 mil habitantes) e com muitos lugares para visitar. 



Fico simplesmente apaixonada pelo castelo da ordem templária. Soube que há uma grande festa, dentro do castelo, uma vez por ano, após a primeira lua cheia do verão... quero vir, quem sabe um dia...










Aqui eu achei a sinalização bem ruim, ficamos meio perdidos e levamos um bom tempo até encontrar novamente outra seta.






Assim que conseguímos nos 'encontrar', e sair da cidade, fomos surpreendidos por um caminho repleto de cerejeiras. Foi a primeira vez que comi a fruta in natura... aqui no Brasil, normalmente, só há em conserva. Comemos muitas, gostei bastante... que delicia!










Continuamos pelo caminho, mas me sinto estranha. O sol está me incomodando mais do que o normal, meu joelho está começando a doer e sinto-me fraca. Prefiro não falar nada ao Filipe, para que não fique preocupado. 

Chegamos em Cacabelos, cidade que pretendíamos ficar. Tentamos encontrar um lugar para dormir, mas estava quase tudo reservado e, o que não estava, era muito caro. Sem alternativa, tivemos que pedalar mais um pouco. Chegamos em Vila Franca del Bierzo e seguimos direto para o Albergue da Pedra mas, para meu desespero, também não havia mais vagas... Soubemos que havia um evento nestas cidades e, por esta razão, muitos turistas vieram para cá. A dona do albergue percebe que não estou me sentindo muito bem e é muito gentil. Pede-me para sentar e aguardar, enquanto faz umas ligações e encontra um Hostel (um tipo de albergue) para nós, em um bom preço, E$ 35,00. Respiro fundo, tomo uma água gelada e seguimos para o alojamento. Aproveitamos para fazer algumas fotos da cidade...












Ao chegarmos, tomamos um banho e logo saímos para conhecer por aqui. Não me sinto nada bem, mas  penso que deve ser a fadiga dos 600 km pedalados em 10 dias. A cidade é uma graça e há muitos lugares para serem fotografados. Assistimos até a largada de uma corrida. 


Na sequência, encontramos um bom lugar para degustar uma massa e um ótimo vinho! Mas dá para perceber na foto como 'estou'.





Quando voltamos para o Hostel, notamos que estão aparecendo manchas na minha pele. Aparecem e de repente desaparecem . Começo a sentir uma certa falta de ar e logo concluo, que posso estar tento uma reação alérgica. Acreditamos que possa ter sido as cerejas, que nunca havia comido. Como trouxe um anti-alérgico, tomo e aguardo. Fico pensando como será se eu precisar ir até um 'hospital'('frio na espinha')... mas assim que sou medicada, as manchas somem e acabo dormindo, consequência do cansaço e da medicação.  Coitado de meu noivo que passa a noite toda acordando, verificando se estava respirando e se havia pulso, rs. Mas a vida é assim... o dia foi incrível e nem mesmo isso será capaz de estragá-lo! 

Obrigada vida...




Fonte de pesquisa:

http://www.oswaldobuzzo.com.br/artigos/as-cidades-do-caminho-frances---2

2 comentários:

  1. O dia de hoje nos fez viver emoções fortes... Desde as paisagens que não acabavam nunca la longe no horizonte, como os prazeres da vida que a natureza nos oferece!!!

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    1. E quantas emoções meu amor!
      Obrigada por estar sempre ao meu lado! Te vivo

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